quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sobre o livro "Os Palhaços" Censura em Joinville Texto teatral censurado em 1968 de Miraci Dereti*

  • 17 de agosto de 1968. O Grupo Teatro Renascença deseja estrear o Espetáculo Os Palhaços de Miraci Dereti, mas é impedido pela Censura local.
  • 17 de agosto de 2009. A peça não vai ser apresentada ainda, mas haverá o lançamento do texto proibido há 41 anos atrás. Desta vez, não será censurada.

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LANÇAMENTO DO LIVRO OS PALHAÇOS

Texto teatral censurado em 1968 de Miraci Dereti*

Palestra: O Contexto da Ditadura e a Censura em Joinville

17 de agosto de 2009 - segunda-feira – 19h30

Livrarias Curitiba – Shopping Mueller

Entrada Franca Exposição paralela: Colagens da Artista Plástica Regina Marcis a partir de registros e fotografias da época.

Informações: 47 9603 5584

Organização e Produção: Cristóvão Petry

Uma Edição: naemblu ciência & arte

*MIRACI DERETI é natural de Jaraguá do Sul, nascido 1942. Foi professor, ator, diretor, escritor e dramaturgo. Ingressou na política como vereador em Joinville em 1973, chegando à Assembléia Legislativa para um mandato, de 1975 a 1979. Foi o primeiro Presidente da Fundação Cultural de Joinville. Foi coordenador do Patrimônio Histórico e do Arquivo Histórico da Fundação Cultural de Joinville. Atuou também no Ministério da Cultura. Escreveu o livro de contos “Atrás do Pé de Silva”. Faleceu em 2006.

Cristovão Petry é graduado em História pela Universidade da Região de Joinville e especialista em Metodologia do Ensino de História pelo IBPEX / FACINTER. Realizou vários cursos de atuação no Brasil e na Argentina; ator nos espetáculos “Seis personagens a procura de um autor” de Luigi Pirandello, “Computa, Computador, Computa” de Millôr Fernandes, “Édipo Rei (para os intimos)” de Tatiane Belinky, “Ausência” de Antônio Guedes e Fátima Saadi e “Aonde Você Vai? Uma comédia sobre o amor” de Benjamin Bradford, entre outros. Foi assessor cultural do Projeto Comunidade na UDESC em Joinville e coordenador do Projeto Cultural Sextas Alternativas no Bairro Itinga. Atualmente, além de trabalhar como ator, pesquisador e produtor da La Trama Companhia Teatral e pesquisador na área de história sobre Teatro e Censura, é membro do Conselho de Cultura e Gerente de Difusão Cultural e Eventos da Fundação Cultural de Joinville.

Trechos de livro e depoimentos:

“A peça não fazia propaganda contra a ditadura, mas levava a reflexão. Num país onde não se podia mostrar a realidade, falar em mentira, fome, exploração era uma anti-propaganda e um “desrespeito” ao poder constituído. Mostrar de forma humorada o poder da igreja, dos políticos e a família desestruturada, não poderia ser bem visto pelos conservadores de plantão. Não é a toa que a peça foi proibida pelos dirigentes locais. É possível perceber que se “Os Palhaços” fossem apresentado aos Técnicos Censores em Brasília, com certeza seria proibida e enquadrada dentro das leis previstas no regime vigente do Brasil.”

Cristóvão Petry – Produtor Cultural, Ator, Pesquisador e organizador do livro

“A publicação de "Os palhaços" traz um outro Dereti, cuja fala mais nervosa e juvenil retrata o militante de espírito democrático rebelando-se contra o estado de coisas totalitário que se instalara já nos primeiros anos do governo militar. Uma voz que também se impacientava com a acomodação e a insensibilidade das pessoas. Em "Os palhaços" parece que a palavra é insuficiente para sacudir o marasmo da ideologia que se tornava dominante e que se fechava sobre os brasileiros como as portas da Lyra, sob a mão da censura, se fecharam sobre o grupo de moços que tentava manter acesa na comunidade a chama da consciência política.”

Borges de Garuva – Escritor e Diretor de Teatro

“Miraci era de uma inteligência privilegiada. Embora as ciências exatas fossem o objeto de seu magistério, era versado em todas as humanas. O domínio da língua pátria e o conhecimento de sua literatura não eram apenas uma diletância teórica, mas na prática, revelava domínio na expressão oral e espontaneidade na arte de escrever.”

David Vegini - Professor Universitário aposentado.

“Homem culto, de uma inteligência invejável. Iniciou-se como candidato a Vereador sendo eleito logo na primeira tentativa. Era um jovem professor que pela sua maneira afável como tratava as pessoas ia logo conquistando-as e fazendo-as amigas. Na câmara de Vereadores fez um bom trabalho tanto que, terminou seu mandato como Vereador e logo em seguida foi eleito Deputado Estadual. Bom tribuno, eloqüente em suas falas, traduzia nelas, tudo o que o eleitor gostava de ouvir de um político jovem e vibrante.”

ULISSES TAVARES LOPES - Fundador do Movimento Democrático Brasileiro. Eleito Vereador em 1.966 e reeleito em 1.969, quando foi cassado e teve que mudar-se para São Paulo/SP.

TRECHOS DA PEÇA:

“Distinto público. Estamos dando início a um espetáculo, cuja finalidade é divertir, sem fazer rir, dizer a verdade, sem fazer chorar, chamar as coisas pelo seu verdadeiro nome, sem ofender e sem criar problemas para ninguém e nem para nós.”

“A sinceridade é uma qualidade primordial a qualquer político. A franqueza, a autenticidade, é tudo o que coloco diante de meus eleitores. O Brasil, país de oprimidos e de sofredores, encontrará a solução de seus problemas, se souber escolher homens capazes, homens desinteressados, e não essas múmias que nada fazem, a não ser sugar o povo, e enganá-lo com promessas vãs e mentirosas.”

Você conhece aquela terra onde o cara não pode ser inteligente porque o patrão é burro e não quer sombra... onde o cara que tem um boteco com três empregados, é dono do mundo e tem o direito de controlar o tempo que o empregado gasta na privada...

Então, os homens olharam para trás e disseram: “Está tudo errado...” e continuaram a caminhar. Os filhos dos homens, quase chegando a ser homens, olharam para traz e disseram: “Eles fizeram tudo errado!”... Olharam ao redor: “ E tudo ainda está errado”... E continuaram olhando para frente. Tornaram-se homens, tiveram seus filhos. E os netos dos homens, quase-homens, olharam muito para trás: “Tudo está errado!”... e um pouco menos para trás: “E ficou mais errado ainda”... olharam para frente: “Será que dá para consertar o que está errado?... e morreram... E morreram... Descobri também, que tudo está errado... e creio que morri. Tornei-me um palhaço!