sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sai o livro de poemas do João Batista  "Os mesmos nós" é o primeiro livro de poemas do jornalista João Bastista. O lançamento será no dia 11, às 18h30, na Livraria Midas, em Joinville. O texto da Orelha do livro é do escritor Rubens da Cunha. A apresentação é escrita pelo jornalista Gleber Pieniz.________________________________
O Rubens da Cunha escreveu sobre o livro

Num tempo em que os poemas estão cada vez mais concisos, João Batista entra na poesia com poemas longos, de versos largos, que pedem ao leitor uma entrega maior, tanto que alguns textos ultrapassam o campo do poema e chegam à prosa poética. Líricos e secos, amargos e doces, niilistas e cheios de compaixão, os nós de João se fazem firmes, densos, justamente porque amarram contrários, unem os paradoxos tão vigentes no nosso tempo. Não se escondem atrás de um saudosismo alienador ou do desejo de um futuro melhor. Expõem-se inteiros no presente, enfrentam o presente e sua carga de desespero e amor.

Diversas metáforas percorrem o livro, muitas delas baseadas nos elementos naturais. Há também uma premente urbanidade nessas páginas: ruas, notícias anônimas, ônibus, chuvas, encontros. Mas o que me seduziu foi uma metáfora coadjuvante nesse livro: a varanda. Vez ou outra ela aparece como espaço em que o olhar se regenera: “de ruínas ergo varandas e sacadas”, ou em que o desencontro vence as relações: “Me revelo em respingos no abrir da tua varanda / Mas sou muito desabrigo para morar na tua casa”. É com a metáfora da varanda que surge um verso que me parece ser o propulsor do livro: “Sou homem sem varandas / Sou apenas construção”. É como se cada poema de Os Mesmos Nós fosse a varanda desse homem em construção.

Rubens da Cunha, escritor

O que o jornalista Gleber Pieniz escreveu
O batismo pela palavra

Nenhum nome aqui é por acaso: poeta real-virtual também chamado de JB ou Jotabê, João é Batista e, ao batizar seu primeiro livro com o título de Os mesmos nós, oferece imagem fértil que abre significados em múltiplas dimensões. É certo, por princípio, que esses “mesmos nós” sejam poemas já publicados no seu blog Caixa de Ressonância, trabalhos familiares a um corpo considerável de leitores e autores que fazem da internet ferramenta, meio e mensagem poética. Antes disso, os tais “nós” são referência direta aos criadores da mesma índole de João Batista, poetas que constituem nova e inquieta confraria que se vale da rede para fustigar a língua e, com rara responsabilidade, explorar seus contornos de forma e conteúdo. João batiza de “nós” também a palavra, o verso que amarra a realidade objetiva aos seus reflexos de subjetividade, aos seus desdobramentos simbólicos, à metamorfose renovadora do signo – fluxo criativo aqui publicado como ritual de iniciação, batismo.

Os capítulos que integram Os mesmos nós guardam uma unidade estilística bastante coesa mas, graças às variações temáticas e formais que insinuam, podem ser comparados aos distintos movimentos que compõem uma sinfonia. Assim, os sete poemas de “Cachecóis” fazem alusão ao fogo, ao calor – mas também o frio – e às gradações de temperatura que, fisicamente, se resumem a vibração. Em “Boreais”, o mote é a manhã, o despertar, a transição: a passagem da noite para o dia que se alça à condição de metáfora para a criação literária. Fragmentos, pedaços, caleidoscópios, faíscas do poeta-fogueira são a matéria-prima de “Mosaicos”, ao passo que a poética do fluxo e da geometria urbana, a arquitetura dos espaços simbólicos e o espírito da cidade movimentam o capítulo batizado de “Itinerários”. Na sequência, a mirada mediada das “Miopias” flagra um mundo percebido através das lentes e revela a particular distorção artística do olhar de João Batista. O processo criador é posto às claras em “Transparescências”, grupo de poemas que faz da palavra pele e da pele vidro, refletindo na água, na luz e nas suas cintilâncias uma série de figuras que evocam não só a mulher, mas a própria poesia. Os mesmos nós encerra-se com as sete partições clássicas de “Hebdomáticas” onde, a partir do óbvio, o autor revela o inusitado.

A escrita de João Batista é marcada pela concisão, pela síntese, pela precisão e pela completude, embora tais características não redundem na revelação do mistério ou da verdade que move cada poema. Ao contrário, seus versos ágeis constituem base concreta de onde parte o voo arrojado do símbolo, da metáfora, do não-dito – qualidade estética forjada através do exercício da escrita virtual, informatizada, e que resulta em raro exemplo de boa literatura produzida e difundida via rede. Da tela para o papel, o que se lê em Os mesmos nós são trechos de perfeito equilíbrio entre o senso comum cotidiano e o acento científico meticuloso, imagens que se alternam entre o chavão e o inédito criando, assim, uma rede semântica de sedutora coerência, capaz de reunir sob a mesma pegada autoral trabalhos de diferentes formas, falas e faturas. Como um ritual de batismo, a poesia de Jotabê é signo de leitura rápida, mas de inevitáveis e duradouros efeitos.

Gleber Pieniz, jornalista

Contatos do João Batista: www.twitter.com/jb_joaobatista
jotabe.jb@gmail.com