quarta-feira, 29 de maio de 2013

Bate-bola com a jornalista Izani Mustafá, que está em Coimbra
A jornalista, professora e pesquisadora Izani Mustafa, gaúcha, radicada em Joinville, professora de rádio no Ielusc, está fazendo seu  estágio de doutoramento na Universidade de Coimbra. Ela faz um estudo comparado entre os usos políticos do rádio pelos governos do Estado Novo de Getúlio Vargas e António de Oliveira Salazar, nas décadas de 1930 a 1945 e fica em Portugal até fevereiro de 2014. Convidamos a Izani para falar sobre sua rotina em Coimbra, a mobilidade, culinária, sobre quais os meios que usa para se manter informada sobre o Brasil e Joinville e sobre cultura em terras portuguesas.

A Izani Mustafá, além de professora na Faculdade de Comunicação Social no Ielusc,  publicou o livro "Alô, alô, Joinville! Está no ar a Rádio Difusora!", que  conta a história da radiodifusão em Joinville no período de 1941 a 1961, narrando o surgimento das três primeiras rádios da cidade – Difusora, Colon e Cultura – a partir das referências e influências políticas ligadas à criação de cada uma delas; e também trabalhou e coordenou nos últimos a instalação da Rádio Joinville Cultural FM, emissora pública e educativa.


1.      Cidade Cultural: Izani, o que você está fazendo em Portugal,  em que região está morando?
Eu estou em Joinville fazendo o meu estágio de doutoramento na Universidade de Coimbra, em Coimbra, que fica região Beiras. A 2 horas de comboio (trem) para a capital Lisboa e a 1 hora de Porto, no norte do país. Eu estou no meu terceiro ano de doutorado na PUC do Rio Grande do Sul e por estar fazendo um estudo comparado entre os usos político do rádio pelos governos do Estado Novo de Getúlio Vargas e António de Oliveira Salazar, nas décadas de 1930 a 1945, com o aval da minha orientadora e de uma banca de qualificação, me inscrever para obter uma bolsa da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). A aprovação da bolsa da Capes foi comunicada em janeiro de 2013 e, a partir daí, organizei minha vinda para Portugal, onde ficarei até final de fevereiro de 2014. Aqui estou fazendo minhas pesquisas documentais diretamente nos arquivos e bibliotecas sobre a Emissora Nacional e o governo de Salazar.

2.     Cidade Cultural: quais as primeiras diferenças na tua rotina?  Na relação com as pessoas, na relação com a cidade, a mobilidade, a comida.

A principal diferença com o Brasil é a mobilidade que, em Portugal, é ótima e completa. Imagina poder viajar de trem de uma cidade para outra com total segurança, em poucas horas. No trem você encontra pessoas de todos os lugares do mundo. Muitos turistas circulam por Portugal, estudantes estão nas universidades do país e se locomovem, principalmente nos finais de semana, para conhecer outras regiões. E o custo-benefício é ótimo. Em Lisboa e Porto a locomoção pode ser a pé, de metro, de ônibus e até de barco, como acontece, por exemplo, de Lisboa para Caçilhas, cidades separadas pelo rio Tejo. Os portugueses em geral são simpáticos, afetivos, educados e estão à disposição para ajudar estudantes e turistas. O ensino aqui é muito rigoroso e eles têm um conhecimento histórico e político do país e da Europa muito forte. A comida é diferente, claro. Os pratos são mais temperados, tem muita carne de porco, pães e doces com muitos ovos. Em Coimbra, a maior dificuldade inicial foi andar a pé porque a cidade é cheia de altos e baixos e o principal acesso à universidade, exemplo, são as escadarias monumentais que tem 125 degraus. Outro ponto importante Em Portugal é a segurança nas ruas porque você pode andar nas ruas, praticamente sem se preocupar com furtos, assaltos. O policiamento nas ruas é muito bom. Infelizmente o país está vivendo uma das piores crises econômicas e o desemprego é muito alto, beirando os 18%. E este é o assunto que domina as conversas. É triste realmente ver pessoas qualificadas trabalhando em áreas completamente diferentes das suas para se sustentar e sustentar a família e ver ainda pessoas pedindo nas ruas.

3.     Cidade Cultural -  Qual é a maior saudade de Joinville, você vem acompanhando Joinville nesse período? Notícias do Brasil, como, em que meios? Rádio, portais na web, etc.


Eu ainda estão “conectada” ao Brasil, primeiro em contato com os amigos pelas redes sociais e e-mails. Ouço rádio do Brasil: Rádio Nacional de Brasília FM – como o fuso horário agora é de mais 4 horas para Portugal, quando acordo já posso ouvir o Repórter Brasil e saber de muitas coisas do Brasil - , à tarde ou noite ouço a MPB do Rio para matar as saudades das músicas de MPB. Quando quero mais notícias, ligo na Gaúcha (RS), mas já sintonizei nas rádios webs dos amigos de Joinville, como Edinho Negão e Dinho Alves e Leandro Schmidt, a Joinville Cultural FM. Me informo também pelos sites UOL, G1 e outros. E dá tempo para ver televisão e ouvir algumas rádios como da RTP (Rádio e Televisão de Portugal – veículos públicos do país) para saber o que está acontecendo no país e no mundo. Quando estou trabalhando em casa, estou conectada e acompanhando tudo.


4.     Cidade Cultural - O que te chamou mais a atenção com relação às atrações artísticas, culturais?
Eu defino assim: respiramos história o tempo todo. Você anda pelas ruas de todas as cidades e os prédios e os lugares têm centenas de anos e muita história. Entre os modernos prédios estão os antigos, alguns preservados, outros nem tanto, mas estão ali em destaque. Portugal foi ocupada pelos mouros em determinados períodos e essa herança está em muitas obras, arquitetura e nome dos espaços. Em Coimbra temos o bairro da Almedina, onde os comerciantes mouros se concentravam. Em Portugal há muitos monumentos para homenagear os benfeitores do país, em guerras e descobrimentos. As praças e parques são espaços super ocupados para apenas ler, descansar, passear com a família, com os amigos. Os bares têm mesas e cadeiras nas ruas e podemos ficar horas conversando, lendo, observando o movimento nas calçadas...Têm atividades culturais para todos, independente da idade: shows, teatro, passeios, visitas a museus. Não tem como não fazer “nada” aqui diariamente. Cinemas com bons filmes. E os shows internacionais que aconteceram aqui como da Daniela Mercury e Marisa Monte têm um custo inferior ao Brasil. Entre esses espetáculos têm os típicos de Portugal que ocupam teatros.


5.     Cidade Cultural – E na culinária, o que tem de bom aí pra comer? O que virou mania pra ti?
(risos) Muito doce, doce de todos os tipos, sempre com muitos ovos. O mais tradicional e realmente muito gostoso é o Pastel de Belém – bairro de Lisboa e cuja casa que fabrica tem uma receita exclusiva e assim tem o melhor pastel. Mas todas as confeitarias vendem este pastel, conhecido como de nata. Mas o que tem de bom para ir são os cafés e as confeitarias para tomar um café ou um sumo de laranja, os meus preferidos. E claro, comer peixes e bacalhau viraram mania mesmo. São pratos saudáveis e gostosos. Mas, como cozinho em casa, preparo as refeições à moda brasileira como feijão, saladas e muitas frutas.